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Avaliação do comportamento evolutivo da retração do concreto aos 28 dias

Na história da LPE Engenharia, a retração do concreto sempre esteve presente como pauta importante na elaboração de nossos projetos, proporcionando o entendimento dos limites de cada solução, bem como a busca de novas tecnologias. Fomos, inclusive, a primeira empresa no segmento de piso no Brasil a declarar, em nossos projetos, os limites de retração.

Esta abordagem também nos fez pioneiros quanto à adoção de soluções de concreto com retração compensada para pisos industriais. Tal situação fomentou, inclusive, a execução de placas de grandes dimensões – Jointless. Trata-se de uma solução projetada desde 1997 pela LPE Engenharia,mas que necessitava de cuidados adicionais em relação às juntas, que apresentavam aberturas mais importantes. A implementação deste conceito de retração compensada aprimorou a técnica, principalmente quanto à redução das aberturas das juntas.

Por outro lado, o assunto teve uma evolução morosa, possivelmente devido ao fato de o piso industrial ser um nicho específico da engenharia, o que demanda maior tempo para a mobilização do meio técnico. Amostra disso é a ausência de norma técnica brasileira para controle de qualidade da retração dos nossos concretos até o ano de 2020, quando se adotava como referência a normativa americana “ASTM C 157 modificada”.

Em 2020, como reflexo do amadurecimento do mercado brasileiro, houve o lançamento da primeira edição da norma brasileira ABNT NBR 16834, para determinação da variação dimensional do concreto, possibilitando uma evolução do controle de qualidade nas obras. É fato que este cenário foi impulsionado por demandas observadas e vivenciadas em função de tendências, necessidades e problemas acompanhados na última década.

Alguns fatores foram preponderantes para esta evolução, tais como a adoção de placas de dimensões maiores, a popularização dos pisos de concreto reforçados com fibras e a escassez de agregados miúdos de melhor qualidade, principalmente as areias naturais de maior módulo de finura. A falta desse insumo específico gera forte impacto no comportamento reológico do concreto, demandando maiores consumos de água.

A publicação da nova norma de Cimento Portland em 2018 (ABNT NBR 16697) também pode ter impulsionado este cenário, pois permitiu acréscimos significativos dos teores de adições ao cimento. As mudanças nas especificações incluíram o aumento do limite máximo de fíler calcário em 5% para todos os tipos de cimento – com a exceção do CP II-F, para o qual o limite máximo permitido foi aumentado de 10% para 25%. Além disso, no caso do CP III, houve um aumento no limite máximo de escória granulada de alto-forno de 70% para 75%. Com tais alterações, observou-se uma elevação nos consumos de cimento, bem como de água, considerando a maior presença de materiais de alta finura.

Estes cenários ocorreram em um momento no qual o mercado ainda não tinha a prática disseminada de utilização em conjunto de aditivos redutores de água de tipo 1 e 2 (plastificantes/polifuncionais com superplastificantes/mid-range) e, tampouco, entendimento dos riscos de concretos com níveis elevados de retração. Com isso, notou-se uma elevação do consumo de água e de cimentos nos traços de concretos empregados nos pisos industriais, característica potencializadora da retração, principalmente a do tipo hidráulica.

Naturalmente, observou-se uma crescente de manifestações patológicas relacionadas aos níveis mais importantes de retração, como fissuras, trincas e juntas danificadas, seja por empenamento ou aberturas significativas. Em função disso, ocorreu uma mobilização de mercado, que se mostrou mais engajado quanto à mitigação da retração, incitando a busca de alternativas, como a própria regulação da normativa brasileira e a introdução dos aditivos expansores e compensadores de retração.

Os aditivos expansores e compensadores de retração, como o próprio nome sugere, passam por um processo de expansão durante a hidratação do cimento e posterior retração. Esse fenômeno é resultado da hidratação do óxido de cálcio (CaO) sinterizado, que se transforma em hidróxido de cálcio (Ca(OH)2). Este efeito ocorre aproximadamente até 7 dias após a adição de água e, dependendo do tipo de aditivo, pode apresentar estágios mais rápidos com base na idade de cura. Após esse período, começa a retração do concreto. No entanto, devido à sua expansão anterior, gera uma compensação na redução do volume do concreto, o que contribui para mitigar a ocorrência de patologias.

A normativa ABNT NBR 11768 – 1 classifica estes aditivos como do tipo CR (compensador de retração). Como critérios principais de aceitação, fica estabelecido:

  • Óxido de cálcio: > 88%;
  • Perda ao fogo: < 5%;
  • Massa específica: > 3,1 g/cm³;
  • Aspecto tátil visual: produto em pó.

Nos últimos anos, a LPE Engenharia notou uma maturidade crescente sobre o tema, com maior controle tecnológico nas obras, e inclusive, uma maior disponibilidade de laboratórios que realizam o ensaio. Contudo, verifica-se um gargalo quanto ao prazo de recebimento dos valores finais, que são disponibilizados após 56 dias da moldagem (conforme orientado pela norma), período no qual algumas obras já estão em estado mais avançado ou até terminaram, dificultando uma ação mais rápida, do ponto de vista técnico e econômico.

Uma medida simples de mitigação do problema, conforme sempre orientamos aos nossos clientes, é iniciar a preparação das atividades do piso com, no mínimo, 90 dias antes do início das concretagens. Todavia, ainda se observa uma falta de planejamento nesse sentido. Por vezes, nos deparamos em situações nas quais, dentro deste período, ainda não há nem um projeto do piso.

Deste modo, com o objetivo de reduzir os prazos avaliativos, o que naturalmente proporcionará agilidade quanto à definição das soluções de obra e projeto, bem como mitigará o “gargalo” de falhas de planejamento em obras, a LPE Engenharia, com o apoio das empresas parceiras, Chimica Edile e Prolab, a partir dos seus respectivos representantes, Riccardo Vannetti e Renan Pícolo Salvador, realizou uma pesquisa do cenário comportamental e evolutivo da retração do concreto no Brasil. O objetivo é prever os níveis de comportamento em cada idade do concreto.

A pesquisa teve uma base de dados robusta disponibilizada pela Chimica Edile e estruturada pela Prolab, na qual foram avaliados mais de 200 ensaios realizados em todo o Brasil, entre os anos de 2020 e 2023, considerando concretos com diferentes tipos de cimentos, agregados, consumos de água, com e sem a presença de aditivos compensadores. Na Figura 02, verifica-se a representação da parcela de ensaios avaliados em cada região do país. 

A análise dos dados procurou avaliar a razão da variação dimensional entre idades, com foco em dois grupos iniciais: 14 e 56 dias; e 28 e 56 dias. A razão entre a variação dimensional foi obtida pela divisão do comprimento do corpo de prova com a idade referencial (14 ou 28 dias), pelo comprimento do corpo de prova aos 56 dias, e o resultado foi determinado em porcentagem. As análises consideraram as médias de todos os dados avaliados, separando-os em dois grupos, que tiveram como variáveis o uso, ou não, de aditivos compensadores de retração.

Em função da sensibilidade do ensaio e da variação dos resultados nas idades iniciais, não foi possível estabelecer correlações estatisticamente significativas para a razão entre 14 e 56 dias. Por isso, este grupo foi descartado. Já a razão entre 28 e 56 dias apresentou correlações importantes, permitindo obter dados conclusivos.

Com a pesquisa, concluiu-se que a variação dimensional esperada aos 28 dias de concretos sem aditivos compensadores é de 330 µm/m. Enquanto para concretos com aditivos compensadores, a variação esperada é de 190 µm/m aos 28 dias.

Visando contribuir com a evolução do mercado, bem como disponibilizar aos nossos clientes mais uma inovação técnica, iniciamos o ano de 2024 contemplando em todos os nossos projetos a especificação de retração aos 28 dias, reduzindo em 50% o prazo para a obtenção de resultados determinantes, algo que certamente proporcionará maior segurança e economia aos envolvidos. Por fim, é válido destacar que esta medida segue as tendências internacionais, adotadas principalmente nos Estados Unidos, fortalecendo a visão técnica sobre o tema.


Engo Igor H. Donisete Gerente de obras | LPE Engenharia